Contos do Sol Poente Autor: André Kondo
Ilustrador: Alessandro Fonseca Prêmio Humberto de Campos - UBE-RJ Prêmio por Histórico de Realização em Literatura - ProAC - Governo de São Paulo Gênero literário: Contos Editora: Telucazu Edições Ano da publicação: 2021 Número de páginas: 120 Tamanho: 14X21 com orelhas de 8 cm Papel: Pólen soft 80 ISBN: 978-65-86928-32-7 Mais informações/Adquirir (valor promocional de apenas R$ 19,00) |
Prefácio
Por Célia Sakurai
É com imenso prazer que apresento o livro Contos do Sol Poente, de André Kondo. São dezoito contos premiados em concursos por todo o Brasil agora reunidos neste livro pela primeira vez. O reconhecimento de seu trabalho está aqui compilado. Ao longo de toda a sua carreira, André se destaca por sua escrita leve e de fácil leitura. Essas características são o ponto alto da maneira como transmite suas convicções.
Escritor por opção, abandonou qualquer outra carreira para se dedicar exclusivamente ao ofício de escrever. Não foi uma opção fácil, pois tinha certeza que teria que abrir mão do conforto e da segurança financeira para ser feliz. Surgiram questionamentos, incompreensões, dúvidas.
O mundo de André não possui fronteiras geográficas e nem receios para mergulhar em suas próprias fronteiras interiores. O que dizer de um autor que atravessa os Estados Unidos com quase nenhum dinheiro no bolso escrevendo poemas e recolhendo uma folha de árvore em locais de importância literária para sentir de perto o mundo de seus escritores norte-americanos favoritos? Ou contando casos engraçados sobre diferenças culturais, viajando desde a Indonésia até Manaus (AM), da Coreia do Sul até Foz do Iguaçu (PR)? Ou recontando suas aventuras pelo interior do Brasil e em uma peregrinação que começa na fronteira da Venezuela, Brasil e Guiana, tendo o monte Roraima como símbolo do inalcançável, e terminando em sua cidade da infância, Taubaté (SP), no reencontro com seu pai e com seu passado? O futuro para André, está sempre “além do horizonte”, título do seu livro de peregrinações. “Viajava porque queria ter algo sobre o que escrever e escrevia porque meu sonho era ser escritor” (Além do Horizonte, 2008: 207).
As viagens de André nem sempre têm fronteiras físicas e temporais definidas. Estes contos que o leitor tem em mãos são viagens entre dois países: Brasil e Japão. Seus personagens são pessoas como nós, pessoas que vivem seu dia a dia sem grandes atribulações, trabalhando e vivendo suas vidas. Só? André responde: “não!” Seu olhar se volta para a história de cada personagem: ora um pescador, um fotógrafo, um tintureiro, um casal de idosos comemorando bodas, uma menina, brasileiros trabalhando no Japão… Cerejeira, ipê, o mato que cresce entre as pedras da calçada, o mar, o rio… A metrópole, Ilha Grande, Vale do Ribeira, Pantanal, a terra vermelha num cafezal… Okinawa, Nagasaki, rio Uji… Mãos que trabalham e nelas constroem suas vidas...
Personagens, cenários, lugares. Dois países, duas culturas, duas línguas, dois fusos horários, oceanos. Para André, essas fronteiras são fictícias, não existem para quem viveu e vive entre dois mundos aparentemente antípodas. O mundo do imigrante é, sim, difícil, traumático, cheio de desafios. Contos do Sol Poente nos brinda com as histórias de imigrantes japoneses que vieram para o Brasil em busca do sonho de uma vida melhor. As surpresas e as dificuldades estão presentes em cada conto. Mas, com poesia. São as histórias de imigrantes que trazem, dentro de si, histórias sem cronologia, sem espaços definidos, apenas aquilo que a memória carrega. São os sentimentos, o relance de um olhar, uma sensação compondo e dando sentido a suas vidas e seguindo o olhar sempre para “além do horizonte”.
As histórias dos japoneses certamente não são em nada diferentes das de outros imigrantes em qualquer época ou lugares, sejam eles irlandeses, coreanos, turcos ou ainda os judeus bíblicos no Egito. Não importam nem tempo nem lugar. Cada emigrante leva consigo a sua terra na bagagem e a replanta na nova terra. Cada um à sua maneira, porque cada um tem a sua história pessoal e familiar para transplantar e adaptar ao seu novo meio. O processo de adaptação é longo e muitas vezes penoso. O imigrante é alvo de incompreensões que culminam em estereótipos equivocados como o do irlandês bêbado, o do chinês contrabandista, o do judeu ladino. E os dos japoneses? Havia notícias sobre os japoneses invadindo terras e massacrando populações na Ásia e, ao mesmo tempo, havia Madame Butterfly da ópera de Puccini e os artistas de ukiyo-e. No Brasil dos anos 1930 eram aqueles que não queriam se misturar; nos anos 1960 eram os “cdf” que só sabiam estudar para garantir um lugar nos cursos superiores. Nas décadas seguintes, porém, tornou-se chique possuir um rádio Motorola ou exibir um relógio Seiko. Sim, o Japão se tornou familiar com os eletrônicos da Sony e os carros Honda ou Toyota. Aos poucos, os “segredos” do país do outro lado do mundo foram se revelando e se tornando familiares. Se no passado comer peixe cru era motivo de risos, nos últimos anos o riso é voltado para quem não sabe apreciar o peixe cru, agora considerado uma iguaria gastronômica saudável. E quem no Brasil não conhece o judô?
Qual a contribuição de André nesse imenso quebra-cabeça? Fiel ao seu estilo de buscar no simples a chave para entender o papel do homem fazendo história, em outras publicações, André já ensaiou seu olhar para o mundo dos japoneses no Brasil, assim como traz o Japão para mais perto dos brasileiros contando suas lendas. O nosso autor nos oferece um panorama universal extrapolando a temporalidade e a geografia para nos mostrar que o ser humano é igual porque é na sensibilidade para as pequenas coisas que se constrói a História e as histórias de cada um. Basta olhar para o mato que cresce entre as pedras da calçada das grandes cidades, para as cumplicidades do amor, ou para os ponteiros de um relógio quebrado, para se viver em plenitude.
Uma boa leitura. Leiam e releiam os contos de André sem pressa para, a cada vez, extraírem, através de palavras simples, a força que as experiências e as memórias têm para a construção do nosso ser.
Célia Sakurai é mestre em Ciência Política pela USP e doutora em Ciências Sociais pela Unicamp. Especialista em história da imigração japonesa no Brasil, foi pesquisadora do Idesp e em diversas instituições de pesquisa em São Paulo. Autora de diversos livros e artigos sobre imigração japonesa, é colaboradora no Museu Histórico da Imigração Japonesa no Brasil. Seu livro “Os Japoneses” (Contexto) recebeu o Prêmio Jabuti.
É com imenso prazer que apresento o livro Contos do Sol Poente, de André Kondo. São dezoito contos premiados em concursos por todo o Brasil agora reunidos neste livro pela primeira vez. O reconhecimento de seu trabalho está aqui compilado. Ao longo de toda a sua carreira, André se destaca por sua escrita leve e de fácil leitura. Essas características são o ponto alto da maneira como transmite suas convicções.
Escritor por opção, abandonou qualquer outra carreira para se dedicar exclusivamente ao ofício de escrever. Não foi uma opção fácil, pois tinha certeza que teria que abrir mão do conforto e da segurança financeira para ser feliz. Surgiram questionamentos, incompreensões, dúvidas.
O mundo de André não possui fronteiras geográficas e nem receios para mergulhar em suas próprias fronteiras interiores. O que dizer de um autor que atravessa os Estados Unidos com quase nenhum dinheiro no bolso escrevendo poemas e recolhendo uma folha de árvore em locais de importância literária para sentir de perto o mundo de seus escritores norte-americanos favoritos? Ou contando casos engraçados sobre diferenças culturais, viajando desde a Indonésia até Manaus (AM), da Coreia do Sul até Foz do Iguaçu (PR)? Ou recontando suas aventuras pelo interior do Brasil e em uma peregrinação que começa na fronteira da Venezuela, Brasil e Guiana, tendo o monte Roraima como símbolo do inalcançável, e terminando em sua cidade da infância, Taubaté (SP), no reencontro com seu pai e com seu passado? O futuro para André, está sempre “além do horizonte”, título do seu livro de peregrinações. “Viajava porque queria ter algo sobre o que escrever e escrevia porque meu sonho era ser escritor” (Além do Horizonte, 2008: 207).
As viagens de André nem sempre têm fronteiras físicas e temporais definidas. Estes contos que o leitor tem em mãos são viagens entre dois países: Brasil e Japão. Seus personagens são pessoas como nós, pessoas que vivem seu dia a dia sem grandes atribulações, trabalhando e vivendo suas vidas. Só? André responde: “não!” Seu olhar se volta para a história de cada personagem: ora um pescador, um fotógrafo, um tintureiro, um casal de idosos comemorando bodas, uma menina, brasileiros trabalhando no Japão… Cerejeira, ipê, o mato que cresce entre as pedras da calçada, o mar, o rio… A metrópole, Ilha Grande, Vale do Ribeira, Pantanal, a terra vermelha num cafezal… Okinawa, Nagasaki, rio Uji… Mãos que trabalham e nelas constroem suas vidas...
Personagens, cenários, lugares. Dois países, duas culturas, duas línguas, dois fusos horários, oceanos. Para André, essas fronteiras são fictícias, não existem para quem viveu e vive entre dois mundos aparentemente antípodas. O mundo do imigrante é, sim, difícil, traumático, cheio de desafios. Contos do Sol Poente nos brinda com as histórias de imigrantes japoneses que vieram para o Brasil em busca do sonho de uma vida melhor. As surpresas e as dificuldades estão presentes em cada conto. Mas, com poesia. São as histórias de imigrantes que trazem, dentro de si, histórias sem cronologia, sem espaços definidos, apenas aquilo que a memória carrega. São os sentimentos, o relance de um olhar, uma sensação compondo e dando sentido a suas vidas e seguindo o olhar sempre para “além do horizonte”.
As histórias dos japoneses certamente não são em nada diferentes das de outros imigrantes em qualquer época ou lugares, sejam eles irlandeses, coreanos, turcos ou ainda os judeus bíblicos no Egito. Não importam nem tempo nem lugar. Cada emigrante leva consigo a sua terra na bagagem e a replanta na nova terra. Cada um à sua maneira, porque cada um tem a sua história pessoal e familiar para transplantar e adaptar ao seu novo meio. O processo de adaptação é longo e muitas vezes penoso. O imigrante é alvo de incompreensões que culminam em estereótipos equivocados como o do irlandês bêbado, o do chinês contrabandista, o do judeu ladino. E os dos japoneses? Havia notícias sobre os japoneses invadindo terras e massacrando populações na Ásia e, ao mesmo tempo, havia Madame Butterfly da ópera de Puccini e os artistas de ukiyo-e. No Brasil dos anos 1930 eram aqueles que não queriam se misturar; nos anos 1960 eram os “cdf” que só sabiam estudar para garantir um lugar nos cursos superiores. Nas décadas seguintes, porém, tornou-se chique possuir um rádio Motorola ou exibir um relógio Seiko. Sim, o Japão se tornou familiar com os eletrônicos da Sony e os carros Honda ou Toyota. Aos poucos, os “segredos” do país do outro lado do mundo foram se revelando e se tornando familiares. Se no passado comer peixe cru era motivo de risos, nos últimos anos o riso é voltado para quem não sabe apreciar o peixe cru, agora considerado uma iguaria gastronômica saudável. E quem no Brasil não conhece o judô?
Qual a contribuição de André nesse imenso quebra-cabeça? Fiel ao seu estilo de buscar no simples a chave para entender o papel do homem fazendo história, em outras publicações, André já ensaiou seu olhar para o mundo dos japoneses no Brasil, assim como traz o Japão para mais perto dos brasileiros contando suas lendas. O nosso autor nos oferece um panorama universal extrapolando a temporalidade e a geografia para nos mostrar que o ser humano é igual porque é na sensibilidade para as pequenas coisas que se constrói a História e as histórias de cada um. Basta olhar para o mato que cresce entre as pedras da calçada das grandes cidades, para as cumplicidades do amor, ou para os ponteiros de um relógio quebrado, para se viver em plenitude.
Uma boa leitura. Leiam e releiam os contos de André sem pressa para, a cada vez, extraírem, através de palavras simples, a força que as experiências e as memórias têm para a construção do nosso ser.
Célia Sakurai é mestre em Ciência Política pela USP e doutora em Ciências Sociais pela Unicamp. Especialista em história da imigração japonesa no Brasil, foi pesquisadora do Idesp e em diversas instituições de pesquisa em São Paulo. Autora de diversos livros e artigos sobre imigração japonesa, é colaboradora no Museu Histórico da Imigração Japonesa no Brasil. Seu livro “Os Japoneses” (Contexto) recebeu o Prêmio Jabuti.
Acessibilidade
Esta obra é acessível com QR code para usuários de audiodescrição. Cada conto acompanha um código de áudio com a descrição da ilustração e a leitura do texto.
Sobre o autor
André Kondo, nasceu em Santo André e foi criado em Taubaté, filho de imigrantes japoneses. É autor de 13 obras, sendo 12 premiadas, incluindo uma tradução desta obra em japonês (おかえりなさい) e outra finalista do Prêmio Jabuti. Morou na Austrália, onde fez pós-graduação pela University of Sydney, e no Japão, tendo visitado desde a gélida Hokkaido no Norte, passando por Honshu, Shikoku e Kyushu, até as ilhas tropicais de Okinawa ao Sul. A convite do Governo do Japão, recebeu a prestigiosa bolsa Gaimusho Kenshusei em 2020, tendo a honra de ser recepcionado por membros da família imperial japonesa. Recebeu mais de 400 prêmios literários, incluindo o Prêmio ProAC por Histórico de Realização em Literatura, concedido pelo Governo de São Paulo. Foi autor homenageado da 2.ª Festa Literária de Jundiaí. É membro correspondente de entidades como a ATL, ASES, AMLAC e membro da Comissão de Atividades Literárias do Bunkyo, fazendo parte da diretoria da Associação Cultural e Literária Nikkei Bungaku e da Associação Brasileira de Ex-Bolsistas Gaimusho Kenshusei. Como autor, chegou a receber o Selo Cátedra Unesco de Leitura PUC-RIO e o Altamente Recomendável da FNLIJ, em uma obra em coautoria, na qual escreveu sobre a sua família. É editor da Telucazu Edições, pela qual tem publicado autores e autoras que estão despontando no cenário literário contemporâneo, com várias obras premiadas. Site: www.andrekondo.com
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Sobre o ilustrador
Alessandro Fonseca nasceu em Taubaté/SP em 1976. É descendente de imigrantes italianos, sírio-libaneses e alemães. Ilustrador de vários livros premiados. Na carreira como artista plástico, teve trabalhos expostos em países como Estados Unidos, Romênia e Argentina. No universo musical, sua arte já foi utilizada na cenografia de clipes da cantora brasileira Pitty e em capas de álbuns, como o “Evolution” da cantora japonesa de J-Pop, Masami Okui. Na elaboração de figurinos, venceu o 1.º Anime Friends, tendo sido também diretor de arte do clipe “On the rocks” de Ricardo Cruz (Jam Project), com participação de Hiroshi Watari. Também desenvolveu as esculturas de Tsurus (grou japonês) que receberam ilustrações de vários artistas, para a exposição no Festival do Japão de São Paulo, na edição comemorativa dos 110 anos da imigração japonesa no Brasil. Para ilustrar “Contos do Sol Poente”, assim como seus antecessores “Contos do Sol Nascente” e “Contos do Sol Renascente”, usou a técnica de nanquim aquarelado, remetendo também ao traço do sumiê
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Conheça também:
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